segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Democracia personalista, baseada na dependência dos outros, é talvez a última alternativa possível

Democracia não é um bem em si mesmo. Seu valor é instrumental e depende da visão a que serve. Não há democracia pura e simples. Todas as "democracias" estão a serviço dum certo conjunto de valores, mesmo aquelas que dizem estar a serviço apenas dos “direitos humanos”. Por trás da expressão "direitos humanos"  há um conjunto de valores sintetizado no ideal de liberdade e igualdade para todas as pessoas.

Uma “democracia para as pessoas” parte do pressuposto de que todas as pessoas foram criadas por Deus à Sua imagem. Portanto, todas são iguais, sejam elas velhas ou moças, doentes ou sãs, produtivas ou dependentes da ajuda de outrem. A prioridade neste tipo de democracia não é a economia ou "progresso" futuro, mas o bem estar das pessoas aqui e agora. O indivíduo não está subordinado a um “projeto” de construção duma coletividade perfeita, logo “ali” numa esquina futura da história, nem aos interesses de alguma "classe" social.

Hoje, "democracia liberal" é sinônimo de "democracia secular".
Qual a visão moral que a democracia secular pretende servir?
Como disse João Paulo II, "o valor da democracia  se mantém ou se destrói dependendo dos valores que ela encarna e promove".

Uma tentativa de fugir a essa verdade é,  às vezes, feita através da proposta de distinguir uma democracia "processual" duma democracia "normativa". A proposta da democracia processual é minimalista: a democracia deveria ser apenas um mecanismo de regulação, sobre bases empíricas, de interesses diversos. Neste contexto, democracia só pode ser o que é hoje: uma constante série de "avanços" contra tabus sociais e conquistas materiais em direção a uma absoluta autonomia individual só atingida – e assim mesmo de forma relativa – por alguns poucos privilegiados.

Uma democracia normativa é aquela fundada na dignidade transcendental da pessoa humana. "Transcendência" significa aqui dependência em outros que não eu e dependência de Deus. Refundar a democracia com base na dependência dos outros, e na necessidade de se dar aos outros, é o que convém chamar de democracia personalista. O personalismo democrático talvez seja a última alternativa possível à democracia secular da cultura ocidental.

Fora da cultura ocidental há outras possibilidades. As "repúblicas" islâmicas são uma dessas possibilidades, análogas ao que foi o comunismo para o Século XX. Elas atraem aqueles que estão alienados ou amargurados, bem como aqueles que buscam ordem e justiça.

No Brasil, vivemos a pseudodemocracia dum Estado formalmente “de direito”, mas substancialmente arbitrário e ditatorial que domina e controla a sociedade, privando as pessoas duma autêntica e real cidadania, dum “espaço” seguro de realização existencial.

O personalismo democrático não busca o poder para transformar o mundo. Mas, sim, busca resgatar a esperança para todos duma ordem mais justa e verdadeira, em que cada pessoa tenha "espaço" suficiente para crescer como pessoa e seja respeitada na sua dignidade intrínseca. Não se persegue essa alternativa democrática apenas por ativismo político. Ou seja, pela maneira convencional de se “fazer política”. Ela é perseguida como missão de serviço. Uma missão atenta à maneira como as pessoas veem seu dia-a-dia. Uma missão que aceita e reflete a realidade das pessoas.

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